sábado

é preciso coragem para se desfazer de afetos. encerrar ciclos é só um jeito de dizer para si mesmo: eu sobrevivo.
os dias hoje são feitos de ápice. tudo é extremamente alto ou extremamente baixo. a dicotomia dos opostos é a tônica das horas. tenho medo. sempre o mesmo. sempre a mesma nítida sensação de que a coisa não vai.
mas vai.
quando a gente menos espera, tudo vai.
hoje fiquei sabendo que um rapaz de quem muito gostava se matou. já é o terceiro, em menos de um ano. faz verão, e ainda assim pessoas morrem por vontade própria.

busco arrancar alguma vontade das coisas que me acontecem. hoje os dias são feitos do mesmo. os dias cobram alguma subversão de minha parte, mas eu sempre acabo voltando para casa cedo demais. existe um verão para ser posto em prática. as notícias correm à boca pequena. tudo o que é deixa de ser.

a madrugada, quando é feita de estrada, conserva o hiato de uma hora perdida. o carro, quando não há ninguém no banco ao lado, não passa de um rádio.
a chuva quase não caiu, mas do lado de dentro de mim eu estava inteiro molhado.

sexta-feira


Há noites em que a temporalidade dos lugares onde estou ousa me assustar. Tudo pode ser perigosamente tempo demais quando não existe para onde voltar. Agora, há iminência de Porto Alegre. As cidades adquirem nomes à medida que seus espaços passam a ter significado. O ano começa lento. Tudo é quase parando. Viver aqui, talvez seja ter o tempo desnecessário para que acontecimentos. Tudo é mais lento, mas nem por isso menos forte. Normal não gostar de telefonar. Também não gosto de atender.

A trilha sonora da casa pode ser escolhida entre mais de quinhentos canais. O sofá é uma coleira. Luto para me manter na frente do word. Esgoto prazos para ter algum motivo que me faça voltar. Amanhã é dia de andar pela rua. De olhar para as pessoas. E de tentar entender se conseguirei mesmo morar na cidade onde nunca antes. O mundo é um buffet para quem tem a carteirinha.


Na noite do ano novo fez chuva e tempestade, mas nem por isso as festas precisaram acabar. De uma forma ou de outra, fiz tudo o que queria ter feito. Fiz festa com a família. Virei o ano com meus pais. Dancei no acampamento eletrônico. Vi a lua nascer. Tomei tempestade na estrada. Procurei por uma festa que não aconteceu. Fumei sozinho na varanda de cueca. Me escondi da vizinha.


Depois as coisas foram pouco a pouco ficando banais.
E a vontade desesperada de sair daqui.


hoje corri 12 k. atravessei a ponte. o rio estava bonito e tocou uma música que eu gostei bastante pela forma como foi usado o violino. estou com o ipod de um amigo. isso significa. 

amanhã. 
na tv, o áudio é gran torino. nunca vi esse filme.
na prateleira, os cinco filmes que aluguei para assistir no feriado de ano novo.
não vi nenhum.
devolver os dvd's.
pelo menos hoje cortei o cabelo.
segunda preciso agitar estúdio. gravar os sons.
estou com medo.
a música, quando começa a se tornar real, assusta.